As sínteses históricas são,
amiúde, arbitrárias. Aliás, o que não é diferente no nosso espiritualismo de
terreiro, já que, pela vontade de muitos, a Umbanda em determinados “terreiros”
tomou rumos contrários ao ideal Divino de salvação. Onde existem possibilidades
de ganhos, há ainda, infelizmente, possibilidades maiores de destruição pela
ganância. Ela, portanto, atendem a uma exigência que temos por marco orientador,
que nos ajudam a entender a nós mesmos e nossa própria história. Vamos fazer então,
uma espécie de leitura de cego, captando somente pontos relevantes, baseando
nossas considerações apenas naqueles trabalhadores que vêem a Umbanda como
ferramenta Divina para o bem, examinando apenas os tarefeiros sérios dessa
filosofia.
A Umbanda é um ser vivo, pulsa e
se transforma, muda e cresce, serve e acolhe. Grandes símbolos, ritos e mitos dão
corpo a esta experiência, o que assustou o espiritismo iniciante de 1908. Era
difícil ao espírita mais entendido da época, aceitar a imagem de um Caboclo projetando o Divino, era
completamente inconcebível acreditar que um negro
velho, que há poucos anos era escravo (13
de maio de 1888)01, serviçal, surrado e sujo, estar ali,
manifestando conhecimento, aconselhando, ajudando os necessitados. Despertando
o seguinte questionamento em mentes tão embotadas: Como podem Espíritos tão inferiores ajudar alguém? Esse era o
discurso daquela época; esse ainda é o discurso. Não entendo como o espiritismo
tão cheio de conhecimento, possua uma visão tão estreita sobre os trabalhos
umbandistas. Alias visão que eu também possuía, antes de conhecer a Umbanda em
essência.
Nos bancos de estudo kardecista, aprendemos
que o Espírito não regride. Por assim dizer, entendemos que somente os
mais preparados, intelectualmente falando, chegam a patamares mais iluminados
no plano Astral, alias o que é uma verdade. Entretanto, como lembra Emmanuel
(lição 121 de "Palavras de Vida
Eterna"), não devemos ficar só na cultura em sentido único. Para a
evolução espiritual são necessárias as duas asas: sabedoria e amor;
inteligência e sentimento; teoria e prática. Pedro (II Pedro, 1: 6),
sabiamente, já advertia que não bastava ficar na ciência, ou seja, só no
conhecimento. Necessário juntar ao saber a piedade, o amor. Juntar ao
conhecimento a sobriedade, moderar apetites e paixões. Saber suportar as
dificuldades sem se queixar, procurando mitigar, ou remediar, os sofrimentos do
próximo. Hoje diríamos: conhecer é importante, porém, o conhecimento sem
pratica é vazio, sem sentido. Devemos é claro desenvolver a inteligência, somando
a praticar da caridade, amor em ação, como dizia Paulo.
Foi nesse contraste que me
deparei na Umbanda: Ela tem amor de sobra, mas pouco conhecimento. Com
isso não estou afirmando que nosso espiritualismo de terreiro é exclusivamente constituído
de pessoas iletradas, não é isso. O conhecimento em questão é aquele ensinado
pela vida, pelos evangelhos, aquele que deixa claro que dicção
não tem nada haver com evolução. Conceito errado que trouxe dos bancos
de estudos espíritas. E qual não foi minha decepção, quando vi a Luz de DEUS
espargida das frases erradas de um baiano; quando ouvi conselhos de perdão em
meio às cacoépias cometidas por um pai velho; ou ainda, a alegria espalhada nos
corações chorosos, misturados aos pleonasmos ditos pelos êres. Confesso que ainda
não consegui decifrar esse enigma, não sei ao certo o motivo desses Espíritos
se utilizarem de arquétipos tão primitivos para realizarem suas tarefas. Mas,
será que o efeito seria o mesmo se no lugar de um desses personagens estivesse
um médico, um poeta, um escritor, um advogado? Acho que não! Será
que não é mais uma vez DEUS mostrando sua força? Ensinando-nos
humildade, dizendo de uma forma muito simples que ele é equidistante de todos
nós? Que ELE pode realizar maravilhas pelas mãos de um erudito, ou
daquele considerado caído por muitos?
Foi assim que se projetaram em
meu intimo as imagens do Divino umbandista. Não um DEUS modificado por interesses religiosos como num falso panteísmo, ou ainda,
pela ganância desmedida dos velhacos da fé sem raciocínio, que não enxergam
além do próprio bolso, aproveitando-se dos infelizes e ineptos sofredores, que
entregam suas vidas a esses “mercadores
da cura”, que vendem a salvação, sem dar-se conta que eles próprios estão
criando seus “infernos”, que inevitavelmente terão que habitá-los ao deixar
suas vestes carnais. Mas por Espíritos refletindo a imagem sagrada do PAI
em tarefa de salvação incondicional e, amor altruísta, montando, como num
quebra-cabeça, sob os mais diversos nomes essa santificada imagem de um amor imensurável
e destituído de interesses.
Outro ponto relevante da
abençoada fé umbandista foi-me dito por uma baiana em trabalho recente: “A
Umbanda é para os fortes”. Em alguns aspectos isso é bem positivo, já
que, seus trabalhadores constituirão exército forte, e sempre pronto para
batalha. Porém, há um fator desconfortante, essa situação acaba criando uma certeza
excessiva em seus médiuns, que podem desenvolver uma autoconfiança muito perigosa. Humildemente entendo que
devemos confiar, não há dúvida, mas compreendendo que nós médiuns somos porteiras
abertas, captando a todo o momento aquilo que vibra ao nosso derredor, se não houver
equilíbrio, estudo e empenho, seremos alvo constantes dos obsessores de plantão.
É comum ouvir na Umbanda: “não necessito aprender nada, é o guia quem
trabalha”. Ledo engano, lamentavelmente as pessoas se esquecem que a
comunicação se dá pela junção de fluídos, sintonia das irradiações. Onde as
consciências se plugam, e passam a transmitir e receber, como os telefones
celulares, suas mensagens. Tudo é mensagem nas comunicações:
seja na psicografia; ou na incorporação de terreiro, recebemos uma ordem, e
nosso cérebro, que já está condicionado a respeitá-la, executa, porém conforme
seus arquivos, suas informações. Nosso cérebro é, portanto, um receptor e
decodificador dessas mensagens, executando-as conforme aquilo que temos
guardados em nossos arquivos perispírituais. Por esse motivo devemos nos
preparar para as tarefas mediúnicas através do estudo, assim oferecemos uma
base de conhecimento, que será explorada pelos bem-feitores espirituais.
Finalizando, o médium consciente
de suas obrigações e missão, deve impreterivelmente buscar o burilamento
espiritual, e o aprimoramento da razão, o conhecimento. Assim facilitará a
comunicação, e a compreensão das mensagens recebidas do astral, e o trabalho
fluirá em conformidade com o propósito de salvação pregado pelo Mestre Jesus,
nosso Pai Oxalá.
Axé para quem é de axé!
Um Operário.
Bibliografia:01 - http://www.suapesquisa.com/historiadobrasil/abolicao.htm
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