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A Teatralização num terreiro de Umbanda

Erving Goffman sociólogo americano, em seu livro “A Representação do Eu na Vida Cotidiana” explica de forma sublime um comportamento muito comum na época contemporânea: nós nos mascaramos diversas vezes ao dia. Hora simplesmente para evitar situações, nos firmar, ou para enganar aqueles que possuem certa distração.

Afirma Goffman: “Não é provavelmente um mero acidente histórico que a palavra "pessoa", em sua acepção primeira, queira dizer máscara. Mas, antes, o reconhecimento do fato de que todo homem está sempre e em todo lugar, mais ou menos, conscientemente, representando um papel [...] São nesses papéis que nos conhecemos uns aos outros; são nesses papéis que nos conhecemos a nós mesmos. Em certo sentido, e na medida em que esta máscara representa a concepção que formamos de nós mesmos - o papel que nos esforçamos por chegar a viver -, esta máscara é o nosso mais verdadeiro eu, aquilo que gostaríamos de ser. Ao final a concepção que temos de nosso papel torna-se uma segunda natureza e parte integral de nossa personalidade. Entramos no mundo como indivíduos, adquirimos um caráter e nos tornamos pessoas”.

A Umbanda de uma forma geral facilita a teatralização dos velhacos, especialistas na enganação, justamente por não ter um protocolo em suas atividades. Ou seja, cada qual, que se julgam: Pai ou Mãe de santo, sacerdote ou sacerdotisa, podem montar seus terreiros conforme suas necessidades de enganação, misturando praticas que na verdade embaralham ainda mais as cabeças, já embotadas, de seus seguidores. São infelizes como estes que criam a má fama do nosso sagrado espiritualismo de terreiro, distorcendo a Umbanda verdadeira, aquela ditada pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, e nosso saudoso Zélio Fernandino de Moraes.  Considerando o grande número de terreiros SA, que se profissionalizam e se estruturam como uma verdadeira empresa, a Umbanda, portanto, entrou em cheque.

Não há como todos estarem certos em suas escolhas, ou só um estar certo, ou todos estarem errados”, é neste simples preceito que se apegam os espertos do terreiro. Esses enganadores conseguem arrastar multidões de ineptos, com promessa de uma vida mais tranquila, vendendo ilusões com seus livros sem nenhuma fundamentação espirita, cursos, até pedras milagrosas, que segundo sua hábil conversa tem o poder de tirar espíritos ruins do nosso convívio. Mas com isso não quero dizer que religião é coisa de gente safada, religião, no entanto, é coisa de gente. O problema é que nas religiões existem safados e honestos.

A Umbanda, como foi esclarecido anteriormente, por não possuir um código de conduta, deixa suas porteiras abertas aos ladrões. Porém, em contra partida, pode tornar-se uma grande escola de vida. A discussão racional em torno de nossa fé é uma perfumaria, não há como entendermos a Umbanda da mesma forma, já que, nossas máscaras nos impedem de aceitar ideias que estão longe dos nossos valores. Procuro pensar minha fé de forma racional, convivo com muita dúvida, mas as minhas dúvidas não me impedem de crer. Pelo contrário, quando questiono busco explicações lógicas para determinados assuntos que me incomodam e, quando não as encontro simplesmente evito as situações. Sem essas dúvidas a religião deixa de servir como forma de interrogar a condições humana, retirando de nós a possibilidade de chegar ao autoconhecimento, que aos poucos nos ajudará a deixarmos as máscaras que cobrem nossa real condição, nos libertando, portanto, dos sofrimentos que carregamos existência-pós-existência. Retirando isso à religião se transforma numa maneira civilizada de encontrar conforto passageiro, então, Jesus, Oxalá, Buda, ou Dalai-Lama, não importa, se tornam apenas consultores existenciais.

Então nesta época contemporânea, identificada pela filosofia como a do hedonismo, só vem a facilitas as investidas dos parasitas da fé sem raciocínio, aqueles à espreita, apenas aguardando o momento certo de atacar. Pois estamos mais preocupados com aquilo que queremos, que em certa medida resgata a filosofia de Arthur Schopenhauer, que diz: “quero, logo existo”. A impressão é que assistimos a derrocada do amor, o desmoronamento da família, o empobrecimento dos relacionamentos. Vinicius escreveu: “que o amor seja eterno enquanto dure”; prefiro disser “O amor dura enquanto é terno” (Frei Beto). Não há ternura entre as pessoas, sempre existem desculpas para essa falta de carinho, e consequentemente a lenta consumação dos relacionamentos, seja ele o casamentos, ou simplesmente a caridade de ouvir e aconselhar.

Augusto Cury, em seu livro “O Colecionador de lágrimas” se utiliza de uma polissemia interessante para identificar um grupo de alunos insensíveis ante a situação das vítimas do nazismo. Disse que esses alunos eram filhos do sistema cartesiano, fazendo uma alusão ao filosofo, físico e matemático francês René Descartes. O que me chamou muito a atenção, pois, tudo que vivemos hoje: o esfriamento das relações, o crescimento das individualidades, a falência da família estão intimamente ligados ao crescimento tecnológico, e as características da vida moderna.

Descartes, apenas para esclarecer, exaltou solenemente a matemática e a posicionou como fonte das ciências, o sistema cartesiano expandiu os horizontes da física, química, computação, e quais são as consequências? Vivemos um gravíssimo problema. Com o crescimento da tecnologia tudo se tornou imediato, com isso o mundo da técnica, que profundamente se confunde com o mundo capitalista, nos submerge as inúmeras novidades que são apresentadas em uma velocidade incrível. Todos os dias um novo artefato surge, tirando de nós a competência para discutir sobre a pertinência daquilo, seu valor e real serventia (Clovis de Barros Filho). Toda essa tecnologia nos separa: são micros, celulares, tablets, ligados às redes sociais, nos tornando amigos e seguidores de pessoas que existem somente no Universo virtual dessas redes. Admiramos imagens que ostentam virtudes que não se conservam. Nos enciumamos por figuras que não existem na vida real de relacionamento, apenas buscam impressionar aqueles que seguem seus perfis. Talvez em buscando algo rápido, sexo, satisfação, ou apenas para se destacar frente às mentes estúpidas que os seguem.

Então, analisando friamente, se em nossos melhores momentos seguimos pessoas que se julgam celebridades, apenas por carregar uma fama passageira, fantasiando a vida desses indivíduos sem conhecer suas necessidades, ou o que fizeram para estar naquele local de destaque. Portanto, quem não seguiríamos em momentos de desespero, onde a sanidade se escasseia ao ponto de não raciocinarmos de forma racional, o que nos levaria para fora de qualquer problema? É nesta curva crucial que caímos nas mãos desses seres imundos.

Meus irmãos, rapidamente, pensemos nossas vidas como uma grande plantação, por isso, aquilo que semeamos hoje colheremos amanhã. E pela regra natural, não há como plantar laranja e colher maça. Plantemos então o amor, caridade, indulgência, oração, possibilitando assim uma colheita futura de felicidade e prosperidade. Eliminando dessa forma toda investida do mal em nossas vidas, e toda ação desses aproveitadores das dores alheias.

E para esses parasitas que vivem da fé, e do sofrimento de muitos, ainda sugiro a leitura dos livros sagradas, em especial o livro de Gálatas 6:7 que diz: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá.”

Um Operário.

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