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Cai, Cai, Balão

Aprendi nos bancos kardecistas que a vida nos devolve na mesma proporção que lhes entregamos. Não existe vitória sem luta, não existe luta sem vontade, não há vontade sem amor. É sempre necessário um passo adiante, Lao-Tsé disse um dia: “Uma grande jornada começa com o primeiro passo”. Mas o primeiro passo não é tão fácil assim...

Conta uma belíssima estória polonesa da época da guerra, que uma mãe desejando encorajar o progresso de seu jovem filho ao piano, ainda muito criança leva-o a um concerto do maestro Paderewski. Depois de sentarem, logo a mãe avistou uma amiga na plateia e foi saudá-la. Tomando a oportunidade para explorar as maravilhas do teatro, o pequeno menino se levantou e eventualmente suas explorações o levaram a uma porta onde estava escrito “PROIBIDA A ENTRADA”. Quando, então, as luzes abaixaram e o concerto estava prestes a começar, a mãe retornou ao seu lugar e descobriu que seu filho não estava lá.

De repente, as cortinas se abriram e as luzes caíram sobre um impressionante piano Steinway no cento do palco. Horrorizada, a mãe viu seu filho sentado ao teclado, inocentemente catando as notas de um simples “Cai, cai, balão”.
Naquele momento, o grande mestre fez sua entrada, rapidamente foi ao piano, e sussurrou no ouvido do menino, “Não pare, continue tocando”. Então, abrindo seus braços ao redor da criança, Paderewski com sua mão esquerda começou a preencher a parte do baixo. Logo, com sua mão direita acrescentou um belo acompanhamento de melodia. Juntos, o velho mestre e o jovem transformaram uma simples melodia infantil em uma experiência maravilhosamente criativa. O público ficou perplexo.

Vivemos situações semelhantes à descrita na estória polonesa constantemente porém com uma diferença, queremos que as nossas primeiras notas ao piano da vida sejam interpretadas como num grande concerto, é assim que as coisas são. Muitas das vezes nos sentimos pequenos em determinadas situações acreditando firmemente que nada daquilo que realizamos tem valor, então, nos rebaixamos ao ponto de copiar aqueles que julgamos experientes, entendendo que esse é o melhor caminho, ledo engano. Nenhuma situação deve ser forçada, todos, isso sem exceção, temos nossos limites, portanto, ninguém é melhor por desempenhar alguma tarefa mais facilmente que outros.

Infelizmente testemunhamos em nosso espiritualismo de terreiro isso com certa frequência. Algumas pessoas novatas, por ansiarem tanto a incorporação acabam mistificando, copiando movimentos ou situações que vivenciaram em outros momentos. O problema não é necessariamente a mistificação, já que, logo a pessoa é descoberta e acaba isolada, mas o que vem de encontro a ela: essas pessoas acabam vulneráveis e vítimas de obsessões violentas, consequentemente deixam a umbanda com um discurso acusativo como se a culpa fosse exclusivamente dos seus pares ou da religião.

Mas como agir para não cair nessa armadilha?
Vivemos a época do hedonismo, tudo se tornou, também, muito imediato. Esse prazer passou a orientar nossos passos, a ordem é ser feliz a qualquer custo, e isso logo. As pessoas então parecem enlouquecidas, agem e vivem sem regras morais, atropelam-se sem remorso, traindo, mentindo, caluniando, como se não houvesse um autor da Criação que tudo sabe... esquecendo que não dá para ser feliz pisando na felicidade alheia.

O médium, seja espiritualista ou espírita, deve manter-se ilibado, ou pelo menos tentar buscar essa cristalização moral, sem exageros; sem muito mostrar-se, perseguir a simplicidade de seus atos, e em seu caminhar. Iniciar os trabalhos de forma cautelosa, sem muitas firulas, querendo mostrar aos outros que pode. A tarefa é para DEUS, por esse motivo não é necessário se entusiasmar, ELE enxerga seu coração, sua intenção, seu amor e principalmente sua vontade de tocar um simples “cai, cai, balão” com sinceridade, e com objetivo único de ajudar os necessitados, onde ELE com certeza abrirá SUAS imensas e poderosas mãos ao redor do tarefeiro humilde tornando essa simples melodia em uma belíssima sinfonia de amor e caridade.

Finalizando, sejamos simples, humildes, e amemos nosso sagrado trabalho, pois o grande MAESTRO da vida estará na plateia apreciando nosso Show. Com isso, logicamente, coisas vão acontecer para desanimar, um desejo grande nos envolverá minando nossas forças, porém, nesta hora ouçamos a sábia voz do Divino Pianista que murmurando diz: “Não para, continua tocando”.

Um operário.

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